quinta-feira, 16 de abril de 2009

Pensando em sonhos II




O sonho de ter todas
As gavetas em ordem,
Todas as prateleiras, armários.

O que é azul com o azul.
O que é livro com os livros.
O que é dentro, todo dentro.
O que é de fora, todo olhos.

O sonho de ter o tempo
Em ordem, numa ordem: não finito.
Tempo com as crianças,
Tempo para as crianças.
Tempo com o homem,
Tempo para o homem.
Tempo extra, incomum, continuum, desacelerado!

O sonho de ter tempo para tudo:
Roupa, corpo, casa, comida, jardins e carros;
Livros, pensamentos, sonhos, música e teatro: minha voz!

Sonho, fenômeno longínquo,
Nuvem baixa, neblinando
Nas serras de minha alma inquieta.

Sonho, frágil sombra,
Sem profundidade, águas rasas
Sem reflexo, nem voz (só o eco!).

Há sempre que se acordar
Diante do tempo que urge,
Na fila, no congestionamento,
No calor, nas distâncias.

Assim como há de se sonhar
Com o tempo de ser plena,
Flor, insana,
Coragem e luz.

Para ver o jarro florido na janela,
Os filhos crescidos no mundo,
O homem deitado numa cama, para o sono tranqüilo...

[E quem disse que as mães dormem sonhos tranqüilos?]



Foto: arquivo pessoal, tirada por Caio César - Exposição "Dino" - OCA, SP, 2006