sábado, 4 de julho de 2015

Um ipê para Agnelo

Muitos escritores escrevem por vários motivos. Eu gosto de escrever para não me esquecer...para determinar pontos eternos e até para despistar a Morte...e essa criatura nesses dias chegou, na cidade onde moro, levando um de seus políticos mais importantes.
Não gosto de escrever sobre política. E, quando escrevo, sou radical.  Também não gosto de escrever sobre a Morte. Gosto de escrever poesia, sobre beija-flores, árvores e sobre aquilo que inexiste na língua comum.
Mas sou uma pessoa comum, com olhos de poeta espantada. Cheguei para residir em Parnamirim há exatamente quinze anos e alguns meses e a cidade foi mudando significativamente em todo esse tempo. Vez por outra cruzava com Agnelo Alves em eventos literários, cumprimenta-o e me divertia com o jeito simples, simpático daquele mesmo homem que reconhecia como o político da cidade. Como pessoa comum, a gente se cruzava no carnaval de Pirangi, nos eventos de minha rua, de meu bairro e, assim, fui me afeiçoando à pessoa comum com quem, de vez em quando, topa com a gente e que sempre tinha uma história a contar.
E eu adoro ouvir histórias...mas também adoro plantar árvores. E, no mundo antigo, havia povos que homenageavam seus mortos, plantando árvores para cada alma que se ia, significando que suas raízes, caules, troncos, frutos e flores iriam perpetuar o nome e a história daquele ser... E foi o que fiz. No dia que Agnelo chegou de São Paulo, por motivos mil, não pude me despedir dele do modo convencional. Fiz do modo Araceli de ser.
No dia seu sepultamento, estava juntando as árvores que iria plantar no canteiro da rua Petra Kelly, bem ali atrás do Boullevard. Um canteirinho por onde passo todo dia e que imagino cheio de plantinhas e árvores. Desde que a rua nem era asfaltada, vivo a plantar uma mudinha aqui e outra ali, assim como outras vizinhas e vizinhos o fazem na extensão de toda a Petra Kelly, na tentativa de torná-la esteticamente florida... Havia chovido e alguns funcionários da prefeitura estavam fazendo a limpeza, retirando os matos, varrendo e juntando os entulhos. Já havia passado pela rua umas duas vezes e acompanhado o ponto em que eles estavam limpando, para dar tempo de chegarem exatamente no canteiro no momento certo de eu levar as mudas. (Sou muito calculista. Planejo minhas ideias bem direitinho, meu povo, para sair do meu jeito... eu já vinha pastorando os funcionários, para a transferências das mudas.) Parei o carro e perguntei a um deles: “Alguém aí, pode fazer um grande favor pra mim? Preciso prestar uma homenagem ao nosso Prefeito que se foi, plantando uma caraibeira do sertão, nesse canteiro, mas não posso cavar sozinha? Alguém cava pra mim?!”. Ora, a resposta veio de imediato: “Na hora, dona!”. Um deles ainda perguntou: “Cadê a planta?”. De dentro do carro, abri o porta-malas, já rindo comigo mesma. Quem me conhece, já sabe que sou um carregamento de mudas! E lá estão: uma caraibeira (Tabebuia aurea), para mim, sempre, ipê do sertão, para eu me lembrar do Juazeiro do Ceará..., dois mini flamboyants laranjas e uma palmeira dracena. Espero que ninguém as arranque. Espero que o ipê cresça...As chuvas de fins de junho e início de julho ajudaram muito a segurar a transferência e já apareceram umas flores...e que lá do Alto, minha homenagem seja bem recebida.


Araceli Sobreira Benevides


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Arquivo Pessoal da Autora/ Junho 2015








Arquivo Pessoal da Autora/junho 2015