domingo, 7 de março de 2010

Para as tantas mulheres de minha vida...as ciganas, as sertanejas, as fortes, as "de pedra", as mães, irmãs, tias, primas, amigas"




I



Amanhã, eu serei cigana,
irei perturbar o mundo,
resserquir quem me engana.

Serei cigana, travessa, atrevida
lerei mãos, farei presságios
devastarei outras vidas...

Correrei descalça pelas ruas, cidades...
madrugando nas vilas escuras,
nem contando só verdades...

Amanhã, serei cigana, sorrindo
entre canções e sonhos
que corro, perseguindo...

28/setembro/88







II

Sonho deserto de mares
Gritando meu nome para as estradas.
O marinheiro não ouve
está escondido nos campos,
perdido, apagado entre vendavais.

Montanhas nos separam
Cada vez mais alegrando meu peito.
Ondas nervosas nos sugam
Misturando areia e alma doloridas.

Sonho fugas, abraços, distâncias
apregoando meus vícios para espanhóis.
Os cavalos todos procuram
a cigana fugida, tresloucada
em arrebóis sem destinos...

26/novembro/88*






Poemas publicados em "O chamado - ou um cântico para liberdade". Editora Scortecci. 2.ed., 2006.







Sina


A mulher do sertanejo;
mãe de sete filhos e outras tantas filhas,
pés inchados no chão ardente,
lenço colorido nos cabelos,
quando longo, coque prendendo-os;
vestido de chita, encardido,
amassado, curto demais.

A mulher do sertanejo
Olhos marejados diante do sol escaldante,
do marido distante,
dos filhos distantes,
das filhas caladas,
mal-vestidas, descabeladas,
confinadas
no silêncio de tristes mulheres sertanejas.


Imagens: Pesquisa Google - Acervo Projeto Portinari



DIA 08 de março - DIA INTERNACIONAL DA MULHER