domingo, 24 de abril de 2011

Pensando em "Transformação"...um pouco de sagrado...um pouco de profano!

          [...]

Mas o céu se abriu...
vieram as dúvidas,
as angústias,
uma muralha inteira
se fez crescer em meu caminho.

A voz fraca foi chegando – de longe:
– Olha o mar,
o abismo,
como venta...
como a folha desce lenta,
suave...
um suspiro sensual nos ouvidos!

– Arrisca-te,
salta dessa altura
para sentir o vento!

– Liberta-te, oh, alma presa –
avança sobre o muro
e vê o que te abre no outro lado...

Há um lado-ser
que desconheces...
uma casa esplendida a te esperar...

Solta o cabelo para trás
e respira fundo...
nada se prenderás a teus pés...
Isso não é uma fuga...
isso não é um desatino!

Descobres tudo
antes que o tempo mude,
as flores murchem,
a pele envelheça!

Te chamo para a vida:
teus filhos que saem de tuas fortes pernas!

Te chamo para o mundo:
tua mão serena que folheia as páginas sagradas!

Nada deves temer:
o Homem, a dor,
a carne, a rua,
a noite, o dia,
a solidão,
o silêncio,
a porta fechada!

O que bebes,
o que vestes,
o que comes,
o que sentes...
tudo com os olhos
fechados deves
sentir...

O doce beijo,
o olhar atrevido,
a mão gentil e maliciosa –
a pele arrepiada...

O que podes ver e tocar
se tornam essência!

Jogue fora o inútil,
o que pesa,
o que culpa,
a consciência do eu
que reclama,
embrutece,
se isola...

Limpe a alma!
sacuda a casa,
desnude-se...

O corpo apenas padece...
é ilusão,
o aprendizado a ser esquecido!

A alma também sofre,
mas ela é livre...
nem folha caída,
nem mar revolto,
apenas camaleão...

E a voz (tão fraquinha)
é a mais doce e gentil
que já me pus a ouvir!

Ela se foi...
Parecia ser eu mesma a me chamar...
Nada de mim encontrei no mesmo modo...

[...]

Trechos do poema "O chamado – ou um cântico para a Liberdade "  que está no livro de mesmo título, publicado em 2006 (2008), pela Editora Scortecci.
 
 

Imagem: pesquisa Google - Maria Madalena em uma pintura de Caravaggio – 1596  - http://caminhocelta.blogspot.com
 
 
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