terça-feira, 30 de junho de 2009


Este poema está no livro "O Chamado ou um cântico para a liberdade" (SCORTECCI, 2008). Título imenso para registrar "o chamado" para a vida, recebido após uma longa caminhada que deixava de lado alguns sonhos possíveis.





O balé das roupas no varal
sempre atraía meus olhos desocupados
Era como folhas num vendaval
Presas em fios bem amarrados.


E mais adiante as lavadeiras
de baixo do sol escaldante
torcendo, batendo nas carreiras
onde a sujeira fazia-se impregnante.

Eram mãos engelhadas e sofridas
que padeciam sob o sabão,
que esfregavam as encardidas
peças do patrão.

Dia a dia naquela sina:
lavar, bater, ensaboar e estender.
E meus olhos de menina
fitavam sem compreender...

A rotina de sempre estar ali
à beira do rio, cantando.
Tendo a vida a se diluir
como as bolas de sabão que vão voando.

E o vento a levar as roupas dali,
rolando-as no espaço
Com meus olhos a percorrer o vai e vem
das lavadeiras nos seus mesmos passos.

Em 26/10/87