segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Minha palavra é mero simbolismo,
Perdida na exterioridade de meu pensamento afoito.
Toda noção de compreensão
surge como um sol a queimar tanta ilusão.

Meus sonhos só são inteiros
quando por dentro ainda cantam em mim as suas imagens.

Querer dizer o que é vão.
Querer adivinhar a linguagem insana.
Nada se consegue sem a dúvida, a ânsia...
As árvores balançam em desarmonia,

Deixando entrever a seiva que luta
como a palavra que sai, confusa, insegura.

Recheada de mistério, fingida,
traduzida em expressão,
falseada por não ficar interna,
iludida por significar um tudo.

E o tudo se mistura ao signo
que não diz, não marca, apenas retrata.

                      II

O que vem de fora aparece com força
Eliminando as raízes apodrecidas das idéias tolas...

É de fora, do olhar, do viver
que a palavra surge...

límpida, serena, traduzindo
o que ouvi há gerações inteiras...
nunca tão clara, de vida e história
um mar imenso de idéias de um único povo...

Pegadas deixadas para quem virá,
Esquecids as horas de interior tão sereno...

O que manda, o que serve,
O que ora, o que vê...

Só a ela entende, só a ela escuta.
São imemoráveis as horas de troca.

Minha idéia, meu canto, minha voz,
sua fala, sua visão, sua resposta.

Um conjunto a fluir
num complexo ir e vir.

Eu e tu, minha parte, sua parte...
Para nossas respostas construir.


*Poema publicado no livro "O Chamado ou um cântico para a liberdade", Editora Scortecci, 2008 (2ª edição)
**Imagem: Arquivo Pessoal - trecho Açu/Mossoró - outubro de 2010