Muitos
escritores escrevem por vários motivos. Eu gosto de escrever para não me
esquecer...para determinar pontos eternos e até para despistar a Morte...e essa criatura nesses dias
chegou, na cidade onde moro, levando um de seus políticos mais importantes.
Não
gosto de escrever sobre política. E, quando escrevo, sou radical. Também não gosto de escrever sobre a Morte. Gosto de escrever poesia, sobre
beija-flores, árvores e sobre aquilo que inexiste na língua comum.
Mas
sou uma pessoa comum, com olhos de poeta espantada. Cheguei para residir em
Parnamirim há exatamente quinze anos e alguns meses e a cidade foi mudando
significativamente em todo esse tempo. Vez por outra cruzava com Agnelo Alves
em eventos literários, cumprimenta-o e me divertia com o jeito simples,
simpático daquele mesmo homem que reconhecia como o político da cidade. Como pessoa comum, a gente se cruzava no
carnaval de Pirangi, nos eventos de minha rua, de meu bairro e, assim, fui me
afeiçoando à pessoa comum com quem, de vez em quando, topa com a gente e que sempre tinha uma história a contar.
E
eu adoro ouvir histórias...mas também adoro plantar árvores. E, no mundo
antigo, havia povos que homenageavam seus mortos, plantando árvores para cada
alma que se ia, significando que suas raízes, caules, troncos, frutos e flores iriam
perpetuar o nome e a história daquele ser... E foi o que fiz. No dia que Agnelo
chegou de São Paulo, por motivos mil, não pude me despedir dele do modo
convencional. Fiz do modo Araceli de ser.
No
dia seu sepultamento, estava juntando
as árvores que iria plantar no canteiro da rua Petra Kelly, bem ali atrás do
Boullevard. Um canteirinho por onde passo todo dia e que imagino cheio de
plantinhas e árvores. Desde que a rua nem era asfaltada, vivo a plantar uma
mudinha aqui e outra ali, assim como outras vizinhas e vizinhos o fazem na
extensão de toda a Petra Kelly, na tentativa de torná-la esteticamente
florida... Havia chovido e alguns funcionários da prefeitura estavam fazendo a
limpeza, retirando os matos, varrendo e juntando os entulhos. Já havia passado
pela rua umas duas vezes e acompanhado o ponto em que eles estavam limpando,
para dar tempo de chegarem exatamente no canteiro no momento certo de eu levar
as mudas. (Sou muito calculista. Planejo minhas ideias bem direitinho, meu
povo, para sair do meu jeito... eu já
vinha pastorando os funcionários, para a transferências das mudas.) Parei o
carro e perguntei a um deles: “Alguém aí,
pode fazer um grande favor pra mim? Preciso prestar uma homenagem ao nosso
Prefeito que se foi, plantando uma caraibeira do sertão, nesse canteiro, mas
não posso cavar sozinha? Alguém cava pra mim?!”. Ora, a resposta veio de
imediato: “Na hora, dona!”. Um deles ainda perguntou: “Cadê a planta?”. De dentro do carro, abri o porta-malas, já rindo
comigo mesma. Quem me conhece, já sabe que sou um carregamento de mudas! E lá
estão: uma caraibeira (Tabebuia aurea), para mim, sempre, ipê do sertão, para
eu me lembrar do Juazeiro do Ceará..., dois mini flamboyants laranjas e
uma palmeira dracena. Espero que ninguém as arranque. Espero que o ipê
cresça...As chuvas de fins de junho e início de julho ajudaram muito a segurar
a transferência e já apareceram umas flores...e que lá do Alto, minha homenagem
seja bem recebida.
Araceli
Sobreira Benevides
Arquivo Pessoal da Autora/junho 2015 |
5 comentários:
Texto bonito, tocante, simples. Melhor: texto tocante e bonito como as coisas simples.
Obrigado pela presença em Pretextos-elr. Grande abraço.
E aqui estou eu, Araceli,retribuindo sua gentil visita ao meu blog !
E encontro o lindo e tocante texto sobre passagem, mudanças, árvores e almas...
Parabéns pelo seu trabalho de ir semeando flores pelos caminhos !
Beijo
Oi, Eduardo e Flora, obrigada pela visita. Nesses tempos sem tempo, a presença de vocês é muito boa por aqui...
Abraços,
Araceli
Uma homenagem cheia de significados, de grande beleza!
A sua escrita leve e gostosa da crônica, trouxe vida e "apagou" a morte.
Um abraço, Araceli
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