O sonho de ter todas
As gavetas em ordem,
Todas as prateleiras, armários.
O que é azul com o azul.
O que é livro com os livros.
O que é dentro, todo dentro.
O que é de fora, todo olhos.
O sonho de ter o tempo
Em ordem, numa ordem: não finito.
Tempo com as crianças,
Tempo para as crianças.
Tempo com o homem,
Tempo para o homem.
Tempo extra, incomum, continuum, desacelerado!
O sonho de ter tempo para tudo:
Roupa, corpo, casa, comida, jardins e carros;
Livros, pensamentos, sonhos, música e teatro: minha voz!
Sonho, fenômeno longínquo,
Nuvem baixa, neblinando
Nas serras de minha alma inquieta.
Sonho, frágil sombra,
Sem profundidade, águas rasas
Sem reflexo, nem voz (só o eco!).
Há sempre que se acordar
Diante do tempo que urge,
Na fila, no congestionamento,
No calor, nas distâncias.
Assim como há de se sonhar
Com o tempo de ser plena,
Flor, insana,
Coragem e luz.
Para ver o jarro florido na janela,
Os filhos crescidos no mundo,
O homem deitado numa cama, para o sono tranqüilo...
[E quem disse que as mães dormem sonhos tranqüilos?]
Foto: arquivo pessoal, tirada por Caio César - Exposição "Dino" - OCA, SP, 2006
3 comentários:
Sonho...palavra que gosto muito.
Sonho e realidade...desafio da felicidade.
Sonhar acordada...a rima de muitos poetas.
E ao ler esse poema percebi mais uma situação para se refletir no questionamento final..
"dormir sonhos tranquilos"
Beijinhos e sucesso!
menina, que coisa mais nossa esse poema lindíssimo que vc escreveu...
é exatamente isso que estou sentindo...
queria tanto as coisas bem aprumadinhas...
mas, nem sempre é do jeito que a gente gostaria...
essa beleza de vulcão prestes a entrar em erupção do seu poema me arrebatou...
beijos...
Oi, Iara, É bem como também estou me sentindo...um vulcão...depois explico, com calma o porquê... Eliane, obrigada pela visita...no momento estou procurando os sonhos tranquilos que não chegam nunca...(pelo menos no momento!) Ah, estado de alma em plena rebeldia...
Abraço para as duas...
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